segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Língua Portuguesa - uma breve conversa


Quando uma conversa sobre gramática é iniciada fora do âmbito das letras, a tendência das pessoas é desconversar, iniciar outro assunto. De forma geral, o povo raramente se identifica com a norma culta, gostam de inovar, criam novas versões para os nomes de objetos, ritmos que soem mais harmônicos, concordâncias mais fáceis de serem empregadas na comunicação diária.

A visão que se tem, pelos mais variados motivos, é que a gramática é um estatuto imutável, criado por seres superiores que não admitem erros em sua utilização. Na escola, qualquer tipo de variação deve ser banida, bom mesmo é aquele colega que sabe todas as regras do emprego da vírgula ou aquele outro que sabe de cor a conjugação verbos no pretérito mais que perfeito, e quando se torna adulto, toma consciência de que nunca aprendeu português.

É uma pena que nunca tivessem dito a ele, que para formular esse simples pensamento e todos os outros enunciados com os quais ele se comunicou a vida inteira tenha usado a língua portuguesa. Ela não existe em si mesma, mas em função do que as pessoas falam, ouvem, leem e escrevem nas práticas sociais.

A gramática é composta de regras e orientações a cerca do uso das unidades da língua, suas combinações com a finalidade de produzir certos efeitos, em enunciados funcionalmente inteligíveis, contextualmente interpretáveis e adequados aos fins pretendidos na enunciação. (Antunes p.86) Assim, a atitude de tentar segui-la a risca para a manutenção de uma língua única, resulta num uso artificial e não atende às exigências efetivas da comunicação entre os falantes de uma língua.

O ensino, o uso, a instituição do que seja padrão ou não na língua portuguesa do Brasil tem sido a temática de vários especialistas da área, acreditam que uma mudança no ensino da gramática em sala de aula pode modificar até a visão que o povo tem de sua língua, o que a valorizaria e diminuiria a distância do que é ensinado na escola e a língua falada pelo povo.

Muitos escritores que vivem da arte literária também se interessam pelo assunto e até discutem questões gramaticais em seus textos. Ivan Jaf que é um escritor bastante versátil, cujas produções vão desde uma série com História do Brasil e vampiros, até adaptações de clássicos, passando por ficção científica e relacionamentos amorosos.  Em “Um futuro singular”, publicado no livro “Lições de gramática para quem gosta de literatura”, o autor conta, de forma bem humorada, a história de um professor de português que escreve ao diretor da escola onde leciona para pedir ajuda numa guerra contra os erros gramaticais, dentre os quais estaria o erro quase herege da não utilização dos plurais corretamente.

Ele alega ser algo de perseguição do “Grande Pajé” da tribo Tupi. O índio desejaria implantar em sua mente o idioma mais antigo dessa terra Brasil, escondido durante séculos, mas que teria permanecido em nosso solo, germinado e voltado à tona para reclamar seu posto de língua oficial. “...dez real – três cueca – seis limão – os peixe tão fresco...”

Poderíamos até seguir a teoria do narrador e acreditarmos que a não utilização de alguns plurais referir-se-ia a um percurso de retorno ao Tupi e explicar que esse idioma fabricado pelos missionários, fruto de uma mistura das línguas utilizadas pelos índios para que ficasse mais fácil catequizar, um produto dos jesuítas difundido entre as tribos catequizadas. Ele foi se misturando ao português e às línguas faladas pelos milhares de negros que foram trazidos para cá, contabilizando um saldo de cerca de 10 mil verbetes oficialmente inseridos a língua falada no Brasil.

O que nos levaria a verificar o já sabido: que a língua portuguesa possui 70% vocabulário do português brasileiro sobre animais e plantas provêm do Tupi-Guarani, tem também vasta influência no nome das cidades, acidentes geográficos, incorporação de ditados populares, nomes de comidas, moradias, topônimos e antropônimos na gênese da instituição de nosso idioma.

Por outro lado, também sabemos que uma língua é modificada por seus falantes num tempo e num espaço, no sentido de simplificá-la e adequá-la ao melhor uso cotidiano.

Essa última ideia de língua nos remete à difundida pela de gramática funcionalista, em que a língua é vista como um instrumento de interação social, cujo correlato psicológico é a competência comunicativa, isto é, a capacidade de manter a interação por meio da linguagem (CASTILHO, P.64).

No que tange ao funcionamento da língua, seus acréscimos e reduções, o autor da obra “A língua de Eulália” nos coloca que por mais que essas construções sejam consideradas português errado, pobre de recursos e várias outras denominações repletas de preconceitos, Bagno defende esse tipo de recurso denominando-o de econômico e funcional. Segundo o linguista, essas construções possuem uma clara lógica, regras coerentemente obedecidas, e serve de material para a literatura popular. Para ele, um bom exemplo seria a canção “Cuitelinho”, obra que, como outras do repertório folclórico, seu autor é desconhecido, grande parte das pessoas a conhece na voz de Nara Leão.


“Cheguei na bera do porto

Onde as ondas se espáia.,

As garça dá meia volta,

E o Cuitelinho não gosta

Que o botão de rosa caia. (...)”


Seguindo a lógica de um português não-padrão, uma língua que funcione e não seja redundante, as marcas de plural só existiria nos artigos que acompanhariam os nomes. No caso de haver um substantivo e um adjetivo, receberia o (s) a palavra que viesse primeiro para indicar que há mais de um. “fortes homem – homens forte.”

Algumas pessoas podem até pensar que tal mudança de perspectiva deprecie a língua, acreditar que quanto maior o investimento na língua, mais ela será valorizada e que são governos negligentes que aceleram esse processo de modificação, pois se implantassem políticas públicas  eficientes, o povo teria mais orgulho da língua pátria. Quanto maior fosse a valorização, maior ao acesso a riqueza lexical e estrutural de uma língua , menos modificações ela sofreria.

Pensar dessa forma seria reduzir a complexa relação entre língua e falantes nas mais variadas classes sociais e níveis linguísticos, pois se há aqueles que não tiveram acesso, utilizam o português-não-padrão e inovam retirando os (ss) redundantes dos enunciados, também há os que se autodenominam intelectuais e inserem palavras estrangeiras para dar status ao que ele anuncia.

Walcyr Carrasco no texto Bilinguismo, retirado do mesmo livro  da obra de Ivan Jaf, nos mostra dois exemplos bastante interessantes num tipo de verbete. Uma espécie de advertência em relação a algumas expressões que servem como armadilha, por demonstrarem uma falsa sofisticação. As palavras são Cult que em inglês significa culto em português, é a denominação dada aos produtos da cultura popular que possuam um grupo de fãs ávidos. Geralmente, algo Cult continua a ter admiradores e consumidores mesmo após não estar mais em evidência, o outro exemplo é Loft, uma palavra que surgiu nos Estados Unidos, uma espécie de moradia instalada em antigos galpões industriais, sempre enormes e sem paredes divisórias veio para o Brasil e a nossa quitinete de luxo, pelo tamanho, perdeu sua utilidade, quem é chique fala e mora num Loft.

Da mesma forma que quem retira (s), os bilinguistas também modificam a língua e não é por isso que empobrece seu léxico. Pelo contrário, o falante passa a ter um repertório maior e bem atual para se comunicar.

Conhecer uma língua significa saber se comunicar dentro das várias relações que se estabelecem dentro da sociedade. “A linguagem é, ao mesmo tempo o principal produto da cultura, e é o principal instrumento para sua transmissão”. (Soares p.16) A supressão dos plurais demonstra a necessidade da utilização dos mesmos em determinados grupos e em determinadas situações. Isto é, nula. Esses grupos não deixam de se comunicar, não deixam de transmitir sua cultura e suas opiniões sobre o que acontece ao seu redor.

Não se trata de inventar uma forma própria de se comunicar, um novo idioma, todos os falantes seguem regras. Cada elemento da língua possui em maior ou menor grau seu lugar dentro do enunciado. Essas regras ficam claras quando se aprende a falar essa língua.

Dessa forma, podemos dizer que é a estrutura social que determina o comportamento linguístico, mas a qualidade, a eficiência do ato de enunciação e recepção só são ineficazes quando o efeito produzido não é o pretendido pelo emissor, quando a proposta de enunciação imaginada não se efetiva no ato da fala.

Defender a forma espontânea dos falantes de uma língua se expressarem de forma alguma retrata uma desvalorização da mesma,é nosso alimento num restaurante “Self Service”e  com  pratos exemplares de variações de Norte a Sul de Pindorama, com sabores do Ocidente ao Oriente e há quem misture quibe, tempurá num prato de feijoada sem a menor cerimônia. Alimenta-se à moda Oswald de Andrade em seus rituais antropofágicos, pois o que importa para ele, assim como para qualquer falante é o sabor do alimento, é a eficiência cumprida pelo papel do alimento, uma necessidade de – o ato de se comunicar.


BIBLIOGRAFIA

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália : novela sociolingüística 15. ed.:São Paulo: Contexto, 2006.

CASTILHO, Ataliba T. de. Nova Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.

ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007.

SOARES, Magda. Linguagem e escola - uma perspectiva social. 17º edição. São Paulo: Ed. Ática, 2001.

CAMPOS, Carmen Lucia; SILVA, Nílson Joaquim da. Lições de Gramática para quem gosta de Literatura.São Paulo:Ed. Panda Books,



   

Resumo do texto: “Linguagem e escola: uma perspectiva social”- Magda Soares p. 68-75.




O capítulo que me propus a resumir possui 4 partes. Ele aborda o estudo da língua desde o início da crise da linguagem ocasionado pelo processo de democratização do ensino, passando pelos papéis assumidos pela escola, ora como libertadora, ora como responsável pela manutenção das desigualdades sociais e por fim, uma proposta de ensino integradora para a sociedade.
1º A crise no ensino da língua:
A crise no ensino da língua é definida  com o advento de um suposto uso inadequado da língua materna e a decadência de seu ensino e aprendizagem. Surgiu em todos os países em que se verificou uma aceleração no processo de democratização do ensino.
Impulsionada por reivindicações das camadas populares, tal aceleração, em prol de maiores oportunidades educacionais, concretizou-se em um crescimento quantitativo e de diversificação do alunado.
Antes destinada a um alunado socialmente mais favorecido, a escola passa a ser destinada a camadas populares. Ela trouxe sua linguagem, mas a escola não estava preparada para atender a esse novo público, agora heterogêneo, o que gerou conflitos de diversas ordens. A crise da língua é na verdade, uma crise na instituição “escola”.
2º a escola redentora:
Nessa perspectiva, as questões sociais são colocadas de lado. A escola desempenha um papel de libertar o aluno de sua marginalidade linguística. Ela deve erradicar as deficiências, fazendo com que o aluno substitua a sua linguagem deficiente pela correta ou adquira uma nova linguagem, mantendo um bilinguismo para adaptar-se às exigências sociais.
3º a escola impotente:
A perspectiva critica da sociedade capitalista vê os grupos sociais não como um “continuum”, mas divididos em classes antagônicas, discriminadas economicamente e socialmente pelo modo de produção capitalista. Nessa perspectiva, a estrutura social capitalista é que é responsável pelas desigualdades na distribuição de riquezas e privilégios, e para que se mantenha, é necessário que essa distribuição seja preservada.
Mais que impotente, a escola, nessa perspectiva chega a ser perversa, porque colabora para a manutenção das discriminações econômicas e sociais, legitimando privilégios, pelas condições de sucesso que oferece às classes dominantes e a dominação, através do fracasso a que conduz as classes dominadas, pela negação, a elas, a condição de sucesso.
4º Por uma escola transformadora
Sabendo que nem uma perspectiva redentora, nem impotente promove uma transformação social pela superação das desigualdades, sob um novo foco, a escola transformadora é comprometida com a luta de contra as desigualdades, vitaliza e direcionam as forças progressivas, o que garante às classes populares a aquisição dos conhecimentos e habilidades que os instrumentalizam para a participação no processo de transformação social.
Uma escola transformadora é, pois, uma escola consciente de seu papel político na luta contra as desigualdades sociais e econômicas, e que, por isso, assume a função de proporcionar às camadas populares, através de um ensino eficiente, os instrumentos que lhes permitam conquistar mais amplas condições de participação cultural e política e de reivindicação social.

Coesão e Coerência


Leitura do texto: “Lutar com palavras: Coesão e Coerência”

Autora: Irandé Antunes



                  É interessante perceber que quando o assunto em pauta é “a Língua”, por mais que se esteja numa situação informal, as pessoas, de uma forma geral, olham para o lado, num gesto como se estivesse perguntando a esse interlocutor tão inconveniente: “Como assim – língua? Do que está falando?”. Claro que esse comportamento refere-se a uma fuga para não falar sobre o assunto.


                   Se essa mesma situação ocorre em uma sala de professores, o olhar de busca é mais especificamente na direção de onde se encontra o professor de língua portuguesa, pois o senso comum acostumou-se a dizer que os problemas da língua cabem aos professores de língua portuguesa resolver, como se só ele falasse português. Indo um pouco além, caso seja necessário, por algum motivo que alguém precise falar sobre a língua, que caiba também aos mesmos, pois seria difícil que outros se atrevessem a tal ato intimidador.

                 Ora, tudo tem origem na linguagem, todo o conhecimento que temos é traduzido pela língua, todos os nossos pensamentos são concretizados verbalmente pela língua, então, como cabe apenas aos professores de língua portuguesa falar sobre a língua?

                A questão é que grande parte das pessoas, ao longo de sua formação, são treinadas para não errar, são acostumadas a ver a língua portuguesa como uma das línguas mais difíceis de aprender. Já tive na escola, quando era mais jovenzinha, professores de várias matérias como: história, física que diziam não ser especialistas na língua portuguesa, “afinal ela possui tantas regras que nem os gramáticos dão conta”, dessa forma, eximiam-se de problemas com os erros de concordância, regência, ortografia que cometiam oralmente e muitas vezes na escrita, na lousa.


               O maior problema que percebo aí não é o fato de eles não saberem a estrutura gramatical da língua, nem a pronúncia correta de várias palavras, mas a forma que perpetuavam a ideia de uma espécie de normatização da ignorância, esse era e imagino que ainda seja o maior problema observado ao longo de minha formação e hoje com colegas de trabalho.

               Na leitura de parte da obra “Lutar com palavras: coesão e coerência”, dividida em 9 capítulos acerca coesão e coerência, com o último capítulo destinado a uma reflexão mais global sobre a importância da língua não só para os estudantes da área, mas como um produto cultural, histórico de sua nação, a linguista Irandé Antunes aponta, logo no início, para um dos motivos pelos quais tem sido tão complicada relação das pessoas com a língua.

              Quando pequenos e durante sua formação, os alunos são treinados para formar frases soltas, descontextualizadas. “A experiência cotidiana da criança como falante de uma língua não é a de formar frases... seria até natural que estranhasse esse tipo de solicitação na escola.”

              O ato de estranhamento por até ocorrer, mas ele acaba incorporando esse tipo de exercício como uma regra escolar, algo que se deve seguir, mesmo que não o compreenda muito bem.

               Em longo prazo, esses exercícios “da não-linguagem” fragmentam e deturpam o modo do estudante ver a língua, acabando por absorver e ratificar a ideia de que ela é algo ininteligível, abstrato.


              Quanto a parte sobre coesão, deter-me-ei apenas um simples resumo do que fora exposto pela autora Irandé Antunes.

              A função da coesão é criar, estabelecer e sinalizar os laços que deixam os vários segmentos do texto ligados, articulados e encadeados. A coesão se constrói na elaboração do texto, conforme ele vai sendo feito e para que tenha sentido, as palavras devem estar interligadas; os períodos, os parágrafos devem estar encadeados. A continuidade semântica expressa-se pelas relações de reiteração, associação e conexão.

             Reiteração refere-se aos processos de repetição por meio de (paráfrases, paralelismo e repetição propriamente dita do mesmo vocábulo);  a substituição realiza-se por meio das (retomadas de pronomes ou por advérbios).


              Associação demanda uma seleção de palavras semanticamente próximas por (antônimos ou por diferentes modos de relações de parte/todo).


             Conexão é um estabelecimento de relações sintático-semânticas entre termos, orações, períodos, parágrafos  e blocos supraparágrafos. A coesão é feita por proposições, conjunções, advérbios e respectivas locuções.

            Já a coerência, de natureza mais complexa, por envolver não só o texto superfície, não só o texto num contexto, mas todos os elementos de produção e na circulação deste, envolvi-me um pouco mais e por isso vou expor sucintamente o que apreendi do capítulo.


            A coerência se constrói pela organização realizada conscientemente para um fim enunciativo. Embora suponha algumas determinações linguísticas, o grau de influência da gramática sobre o texto é mediado pela intenção do enunciador para criar um determinado efeito.

           As escolhas lexicais e o estilo do texto são determinados pelo conhecimento que o emissor tem não só da língua, mas também do interlocutor, do contexto e das condições extralinguísticas que influenciarão o sentido do texto. É por isso que não se pode determinar um modelo de coerência específico, único; cada texto é único, por isso sua organização gramatical e os efeitos que se deseja construir dentro do texto para que ele tenha vida e faça parte do organismo social.




quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Poesia em sala de aula




O texto abaixo é parte de uma artigo sobre a trajetória de uma professor que se torna poeta para dar aula sobre poesia visual.


    De Poeta a Professor

Um dos maiores equívocos verificáveis no ensino de poesia é a forma reducionista como a mesma vem sendo tratada, muitas vezes, em sala de aula.
Fala-se em inspiração, escolha de palavras impactantes, rimas, mas a falta de iniciação dessa poética e dos seus verdadeiros significados e técnicas utilizadas causa uma idéia errônea de que toda poesia seja elaborada a partir sempre de um mesmo prisma.
A falta de preparo daquele que se propõe à tarefa de ensiná-la incorre da formação de uma visão reduzida e muitas vezes distorcida sobre poesia, mas o maior problema é que tal abordagem pode tirar do aluno a oportunidade de ter um verdadeiro contato, de poder admirar, gostar, desgostar, emociona-se e refletir sobre as situações que geraram o poema e também como ele se encaixa dentro dessas situações. A falta de uma iniciação significativa tem impedido grande parte das novas gerações de consumir poesia como algo que faça parte da vida, natural e sensível.
Para Pignatari, a poesia “é arte do anti-consumo”, bastante peculiar e contraditória nas artes da palavra. Ao mesmo tempo, estranhamento e admiração. Ao indagarmos o que é aquele estranho e o que é o imprevisto, parece motivar-nos a um confronto de idéias e desse confronto, um movimento. O  simples ato de sairmos da nossa posição acomodada sobre o que acreditamos como certo para si e para o mundo, algo pode ser modificado em nós. E sobre esse aspecto da poesia, Pignatari situa-nos no campo da sensibilidade:

A  poesia  situa-se  no   campo  do  controle  sensível, no  campo  da imprecisão. A questão da poesia é esta: dizer coisas imprecisas de modo preciso. As artes criam modelos para a sensibilidade e para o pensamento analógico. Uma poesia nova, inovadora  e original cria modelos novos para sensibilidade: ajuda a criar uma sensibilidade nova.PIGNATARI – 1981- p.51


A preocupação com a construção de um saber poético – visual deve levar o professor à pesquisa e à elaboração de uma prática educativa, no sentido de desenvolver essa sensibilidade não só para a leitura  de obras, mas também para a produção e reflexão do aluno sobre a arte, sobre sua criação enquanto aprendiz e sobre o mundo em que ele vive.
Para Ana Mae Barbosa (2008), os professores precisam conhecer desde os conceitos fundamentais da linguagem da arte, até os meandros da linguagem artística em que trabalha. Saber sobre sua produção, seus elementos que a constituem, seus códigos, como se dava e como se dá a presença humana, que implica para ela numa “visão multicultural”
“É preciso, ainda, conhecer seu modo específico de percepção e como se estabelece um contato mais sensível.” “Como são construídos os sentidos a partir das leituras, como aprimorar o olhar, o ouvido e o corpo”. BARBOSA p.52.
Dessa forma, a reflexão sobre as atitudes do educador precisa ser sempre revista, as informações reelaboradas, revisitadas em suas teorias, repensadas enquanto matéria viva que se modifica, pois a cada aplicação, os alunos são diferentes, seus repertórios são outros e com isso a prática precisa acompanhar essas mudanças para que o conteúdo estudado seja possível à aprendizagem.

Do ódio aos sabores


Na história, a luta entre os mais variados grupos nos prova que toda configuração que os distinguem e os impelem à batalha é contraditória. Uma vez que todas as regras que os fazem sobrepor-se uns sobre os outros, que toda razão para a renúncia a uma coexistência esfarela-se por entre cascas de pão que alguém produz para um vender e outro se alimentar. Entre uma gestação de um filho, que por muito tempo coube a outra amamentar... entre as paixões e desejos que se agitam e abalam quaisquer pilares à conviência.
Do ódio aos sabores que animam o espírito e que fazem gerar  o inevitável apreço e a dolorosa constatação de que nunca um será igual ao outro, mas o sucesso ou fracasso de um será o do outro.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A Pintura em Vasos - Édipo Rei


A história dos vasos

Os vasos gregos são também conhecidos não só pelo equilíbrio de sua forma, mas também pela harmonia entre o desenho, as cores e o espaço utilizado para a ornamentação. Além de servir para rituais religiosos, esses vasos eram usados para armazenar, entre outras coisas, água, vinho, azeite e mantimentos. Por isso, a sua forma correspondia à função a que eram destinados:

- Ânfora – vasilha em forma de coração, com o gargalo largo ornado com duas asas;
- Hidra – tinha três asas, uma vertical para segurar enquanto corria a água e duas para levantar;
- Cratera – tinha boca muito larga, com o corpo em forma de um sino invertido, servia para misturar água com o vinho (os gregos nunca bebiam vinho puro);
- Kantharo – uma espécie de cálice.

Os gregos do século XII a.C. tinham uma vaga lembrança da desdita de seus antepassados, mais tarde relatada com toques de lenda, em poemas épicos como “A Ilíada” e “A Odisseia”, atribuídos a Homero. Não saberiam precisar o nome daqueles povos vindos do norte a partir do século XV a.C.; primeiro aqueus, depois os eólios e jônios, finalmente os dórios que falavam dialetos diferentes e deram o golpe de misericórdia na agonizante civilização creto-micênica.

A população dispersou-se pelas ilhas e montanhas. Com o declínio do comercio e da economia, desapareceu a vida urbana. Ganhando feições rurais, cada agrupamento familiar ou clã tinha seu chefe responsável pelo cultivo da terra, pelo trabalho coletivo e pela divisão de produtos. Mas a invasão dórica que começou do século XII a.C. também atingiu a arte, empobrecendo os artesões e fechando as escolas profissionais.

Os vasos gregos desse período retomavam uma simplicidade e um primitivismo há muito superados em Creta e Micenas. Impera nas cerâmicas aquele estilo geométrico onde a função utilitária de armazenar líquidos e cereais prevalece sobre qualquer intenção artística. É a cerâmica Dipilon, assim chamada por ter sido encontrada principalmente no cemitério do mesmo nome, próximo a Atenas. Nos vasos, ânforas, pequenas caixas e animais de terracota triunfam o geometrismo. Sobre tons alaranjados da cerâmica, desfilam as mais singulares combinações de figuras geométricas em negro: retas, curvas, polígonos, meandros, pontos e espirais são parte de uma profusa decoração.

Sem limites definidos, as figuras claras e rítmicas se ligam e se integram, obedecendo á faixa horizontal onde se inserem. Há uma harmonia simples e bela no jogo dos círculos que se entrelaçam até formarem pequeninos pontos, bem como nas retas paralelas que compõem os frisos da faixa central, representando, muitas vezes, cenas cotidianas.

Os vasos Dipilon reproduzem os cortejos fúnebres: figuras esguias e estilizadas de cavaleiros segurando frágeis arreios. Os cavalos têm múltiplas patas e os pequenos carros são apenas indicados por rodas frontais e por uma plataforma que sustenta o condutor. As árvores e o sol, os animais e os homens são como traços de caligrafia. A natureza, de tão repetida, transforma-se numa imagem esquematizada. E a geometria da decoração, em faixas separa acompanhada a própria forma do vaso, extremamente simples.

Os artistas gregos ainda procuravam fazer suas figuras com os mais nítidos contornos e incluir tanto conhecimento sobre o corpo humano quando coubessem na pintura sem violentar a sua aparência. Ainda eram amantes das linhas firmes e do plano equilibrado. Ainda não se dispunham todos os relances fortuitos da natureza, tais como as viam. A velha fórmula, os tipos de formas humanas que se desenvolveram ao longo dos séculos, continuavam sendo os seus pontos de partida. Só que já não as consideravam tão sagradas como antes em cada detalhe.

A grande revolução da arte grega, a descoberta de formas naturais e do esforço, ocorreu numa época que é, certamente, o mais assombroso período da história humana. É a época em que o povo das cidades gregas começou a contestar as antigas tradições e lendas sobre os deuses, e a investigar sem preconceito a natureza das coisas. É o período em que a ciência, tal como é vista hoje, e a filosofia despertam pela primeira vez no ocidente.

 



Édipo e a Esfinge – análise da obra
 

A imagem traz a personagem Édipo, figura mitológica conhecida como a escolhida para sofrer todos os males de sua linhagem e a Esfinge, ela muito representada em pintura de vaso e baixos-relevos, como um leão alado com uma cabeça de mulher; ou uma mulher com as patas, garras e peitos de um leão, uma cauda de serpente e asas de águia.

Esse encontro mítico-literário ocorreu na obra trágica de Sófocles. A personagem Édipo é filho de Laio, rei de Tebas. O monarca, conhece sua maldição quando sua esposa engravida e este vai ao Oráculo de Delfos saber sobre o futuro da criança. Ele descobre que sua sina é que seu filho tornar-se ia seu assassino e desposaria sua própria mãe. Agindo como qualquer ser humano, tenta escapar da ira dos deuses e após o nascimento de Édipo, Laio manda matá-lo num lugar distante de Tebas.

Com dó da criança, o algoz a deixa com vida próximo de Corinto, reino vizinho de Tebas. Édipo sobreviveu e foi salvo por um pastor que o entregou a Políbio, rei de Corinto.

Édipo foi criado como príncipe e já adulto, descobre a maldição que lhe fora atribuída. Mais uma vez, para fugir à predestinação, foge de Corinto sem saber que seus pais verdadeiros o esperavam em Tebas para cumprirem juntos os seus destinos.

Ainda próximo a Corinto, Édipo encontra um bando de mercadores e seu amo – Laio – pai de Édipo. Sem saberem de suas verdadeiras identidades, travam uma luta e Édipo acaba matando seu próprio pai. Seus seguidores também são mortos, exceto um que consegue fugir muito machucado.

Ainda sem rumo certo, Édipo fica sabendo que a cidade de Tebas havia caído sob uma maldição e que aquele que livrasse a cidade dessa maldição, ganharia o trono e fortuna. Assim que chega a Tebas, livra o reino da Esfinge e seus enigmas e como recompensa: É eleito rei e premiado com a mão da recém-viúva rainha Jocasta; sua mãe.

Após uma consulta ao oráculo de Delfos, os tebanos são alertados sobre alguém que provoca a ira dos deuses: o assassino de Laio que vive na cidade. Édipo decide livrar o reino mais uma vez, descobrindo a identidade do assassino do antigo rei.

Ele só não esperava que essa maldição caísse sobre ele próprio, assim descobre a verdade, a tragédia prenunciada se configura com o suicídio de Jocasta, Édipo cega a si próprio e seus filhos eternamente amaldiçoados.

Houve, na mitologia antiga muitas e diferentes representações da esfinge. O mito de Édipo, no entanto, sobretudo depois de imortalizado pela tragédia Édipo rei, de Sófocles, privilegiou de tal forma uma delas que as demais caíram no esquecimento. A Esfinge é filha de Tifão e Équidna, foi enviada por Hera para punir a cidade de Tebas, a qual havia desrespeitado a deusa do Olimpo.

Criatura monstruosa com corpo de leão, cabeça humana e azas, na representação mais comum, a esfinge, monstro devorador foi um importante tema mitológico nas antigas civilizações egípcias e mesopotâmicas. Na Grécia, literatura e arte se inspiram frequentemente, no mito Édipo e da Esfinge. Esta, segundo a lenda, aterrorizava os habitantes da cidade de Tebas e matava os que não conseguiam resolver o enigma por ela proposto: “Que animal caminha com quatro pés pela manhã, dois ao meio dia e três à tarde, e contrariando a lei geral, é mais fraco quando tem mais pernas?”

Édipo conseguiu decifrar o enigma, dizendo que era o homem: Ele engatinha quando bebê, anda com duas pernas ao longo da vida e precisa de um bastão na velhice. Ao ouvir a resposta, a Esfinge, derrotada, jogou-se num abismo.

Uma das mais antigas representações da figura motológica é a Colossal Esfinge de Gizé no Egito, que data do reinado de Quefrén, faraó da quarta dinastia. A esfinge egípcia tem corpo de leão com as patas dianteiras estendidas, e cabeça humana, coberta com uma manta funerária (nemes). Supõe-se que representa o Deus Hórus, guardião de Templos e Túmulos. Os egípcios esculpiram muitas estátuas da esfinge, cujo rosto lembrava sempre o faraó da época. Algumas esfinges, no entanto, ostentavam cabeças de carneiros e falcões. As imagens ficavam na frente dos templos, em ambos os lados da estrada de acesso (dromos), com função protetora, como no grande templo de Karnak.

Por volta de 1600 a. C. a esfinge feminina alada foi adotada pela civilização grega. Encontram-se os primeiros exemplos de sua utilização em objetos cretenses do final do período molnóico e nas sepulturas de Micenas do fim do período heládico.

A partir de 1200 a.C., as esfinges desapareceram da cultura grega por certa de 400 anos, mas mantiveram-se na Ásia, com aspecto semelhante ao que tinha na idade do bronze. No final do século VIII a.C. a esfinge reapareceu na arte arcaica grega, na qual persistiu até o final do século VI a.C.. A nova esfinge grega era quase sempre feminina, com grandes tranças. Seu corpo se estilizou e as azas adotaram a forma curvada, como a famosa esfinge de Delos. As esfinges converteram-se em motivo frequente para decoração de vasos e peças de marfim e , no final do período arcaico, apareceram como ornamento de templos, sempre com função protetora.

No século V a.C, o mito de Édipo e a Esfinge, representada no alto de uma coluna foi tema comum na decoração. Outras obras do período clássico mostram Édipo em combate com as  Esfinge, expressando assim, fisicamente a disputa intelectual entre as duas figuras míticas. Nada relatam as lendas, porém sobre episódio, o que leva a crer que a arte grega tenha tomado o tema da luta do Homem contra um ser monstruoso de alguma civilização oriental.

A utilização de passagens das obras literárias, embora fosse uma prática comum, nos revela uma característica da época: a figura remonta uma passagem em que o homem supera o mito pelo conhecimento e esse era o principal objetivo dele, o desenvolvimento de sua razão. O início da valorização da razão (logos) ao lado do elemento mágico enviado pelos deuses.

A ironia está no fato de que, mesmo superando a esfinge pelo conhecimento, o homem está à mercê das fatalidades do destino, do qual é incapaz de fugir. O poder que levou Édipo ao trono “o saber”, foi este mesmo que o levara a ruína.

O herói, ao mesmo tempo que é salvador, também é o causador dos grandes males do seu povo. Tal imagem, suscita a própria condição de existência do ser humano e suas responsabilidades diante dos seus atos, controlados por ele mesmo e não por forças divinas. Este conceito difere o homem da concepção existente até então, daí sua importância, não só para a arte, mas para a compreensão de toda a história da humanidade.

 

 

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Análise da obra "O Assinalado" - Cruz e Souza

Este trabalho está situado na área de leitura textual e tem por tema: "O papel das saliências e relevâncias na legibilidade do poema.


O Assinalado
 

Tu és o louco da imortal loucura,
O louco da loucura mais suprema.
A Terra é sempre a tua negra algema,
Prende-te nela a extrema Desventura.
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
Faz que tu ’alma suplicando gema
E rebente em estrelas de ternura.
Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco…
Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!

 

Analise do Poema

 


Para analisarmos o poema “O assinalado”, o escritor Cruz e Souza, poeta Simbolista, soneto datado em 1905, trabalharemos o texto enquanto produto, por meio de uma leitura polissêmica e analítica.
Nessa analise, mostraremos o percurso da personagem que é apresentada no primeiro verso do poema “... o louco...”, num momento incomum da vida em relação ao mundo.
Por ser um texto que não se desvenda por si só, procuraremos desvendar o interior de cada signo, em suas várias faces, sentimentos emaranhados e sensações múltiplas que aos poucos mostram-se para o leitor. Apresentaremos uma interpretação que está longe de ser perfeita, mas que foi escolhida nesse momento, para analisar “O Assinalado”.
Diante desse soneto “O Assinalado”, já o titulo deixa – nos  supor  que  alguém  ou  alguma coisa está marcado, sem por enquanto dar – nos evidências mais concretas do que se está falando.
No primeiro quarteto, no primeiro verso, temos a apresentação de uma personagem “Tu és o louco da imortal loucura...”, temos um ser que, segundo o eu-lírico, sofre de um mal incurável, uma loucura que jamais terá fim.
No segundo verso, este mal é enfatizado  pela  palavra  suprema, “... a  loucura  mais suprema...” estaríamos falando então, de uma loucura, que está acima de qualquer cura, algo gradual, isto é, a loucura seria classificada em estágios, é como se a loucura de que estamos falando, fosse de uma categoria superior a todas as demais existentes.
No terceiro verso, temos o elemento terra dado como uma prisão para este louco, uma prisão “negra” dolorida. “... A terra é sempre a tua negra algema...”, o adverbio sempre confirma-nos o aspecto infinito desse cárcere. Mas, como estar preso pela terra, se ela é todo que conhecemos? Então, é um todo que não basta a esse ser que se sente aprisionado dentro do tudo que nós seres humanos conhecemos.
No quarto verso, quando o autor diz “extrema Desventura”, não se sabe ao certo de que desventura “personalizada” pela letra maiúscula está falando, pode estar mencionando tanto sobre a “terra” do verso anterior, como da própria loucura. “... prende-te nela a extrema Desventura...” Mas porque um louco, já que impregnados pela condição da imortal loucura e eterna, teria que ser tão dolorosa, desgraçada e infeliz sua vida? Sendo louco, poderia escolher a personagem que quisesse para viver, sem ter que ser necessariamente infeliz e nessas escolhas, haveria uma infinidade de possibilidades.
Com esse novo dado, comprovamos que na primeira estrofe realmente estamos falando de alguém especial e diferente “alguém marcado”, por uma loucura suprema, dolorida e cheia de infelicidades.
Na segunda estrofe, os dois primeiros versos retomam o que já foi dito antes no primeiro verso “... Mas essa  mesma  algema  de  amargura...”, “- mas  essa  mesma  extrema Desventura...” A expressão “essa mesma” retoma e prepara-nos para algo novo e diferente até então.
No terceiro verso o autor mostra a “alma” do louco no limite insuportável da dor e tristeza, “... faz que tua alma suplicando gema...”. Essa mudança partiu da alma do louco, “... alma suplicando gema...”, por meio de um pedido interno há a manifestação do que anteriormente era apenas introspectivo.
No quarto verso, tudo se modifica, quebrando em  pedaços  e  desabrochando  para  uma nova realidade, cheia de sensibilidade e meiguice “rebente em estrelas de ternura...”. Uma vez externalizado, pode  ser  visto  e  interpretado  pelo  olhar  alheio de formas diferentes.
A segunda estrofe transforma tudo que até então era imutável. Falávamos de um mal sem cura, imortal, extrema Desventura, e agora temos “estrelas de ternura” segundo o eu-lírico, essa  mudança  partiu  da  alma  do  louco, “... alma  suplicando  gema...” por meio de um pedido interno.
Mas que louco é esse que faz súplicas, dado que um louco não te consciência das coisas que ocorrem consigo mesmo? Uma consciência de ser inconsciente? Ou, inconscientemente, estar consciente de tudo o que ocorre dentro de si? Inspiração?
No primeiro verso da terceira estrofe o autor desvenda a personagem do louco “... Tu és o Poeta, o grande  Assinalado...”, sendo  assim  que  sofreu  e  foi  marcado para passar por todas as aprovações de até então, foi o poeta.
No segundo verso, o autor diz que é o poeta quem vai dar vida onde não existe nada, ele irá produzir e do nada poderá criar tudo. O poeta pode tudo em sua poesia, ele não precisa retratar a realidade como numa fotografia, ele terá um estilo próprio para dizer o que, com palavras engajadas gramaticalmente corretas seria possível, pois será com o esdrúxulo, com o estranho que mostrará, segundo sua visão de mundo, o correto das coisas.
Não segue modelos esteticamente padronizados. Talvez, por isso seja considerado louco, aquele que não vê o mundo como as outras pessoas, aquele que consiga recriá-lo de um jeito jamais pensado até mesmo pela ciência.
O elemento “terra” (terceiro verso  da  primeira  estrofe) “... a terra  é  sempre  a  tua negra algema...”, agora  já pode ter  sentido  com mais clareza, haja  vista, são  sempre  sobre os elementos da terra que o poeta fala, são os dados que ele tem á mão para escrever, “negra alma”, o autor pode estar fazendo uma referência ao fato de que, embora a terra seja muito grande, confirmado pelo poeta no primeiro verso da quarta estrofe “... Na Natureza prodigiosa e rica...”, com um material  para se  compor, às  vezes, para  o  poeta “a terra” parece pequena demais para sua transcendência de artista. Ir além da terra, do conceito, do real visível é seu grande desafio.
No segundo verso da quarta estrofe, o autor retoma a questão da composição do poeta, a coragem e muitas vezes o atrevimento  que  tem  de criar expressões como “audácia dos nervos”, “... toda a audácia dos nervos justifica...”, ele dá características à pessoa e coisas que não são inerentes a esses grupos num jogo prosopopeico, causando estranhamento na  maioria  das  vezes, mas  essa  foi  a  forma que o poeta encontrou para  expressar a amplitude das coisas, sem os limites impostos por definições dicionarizadas.
No terceiro verso da quarta estrofe e último do poema, temos a expressão “espasmos imortais”, que poderíamos classificar como uma contração involuntária dos músculos, ou simplesmente inspiração, uma vez que se refere ao fazer do poema. Imortais porque são próprios dos escritores de todas as épocas.
Retomando a questão do sofrimento inicial do poema, poderíamos entendê-lo como a falta de assunto, indecisão ou até mesmo confusão de palavras, que o poeta passa antes de escrever. Enquanto o escritor, no momento da elaboração de sua obra, o artista sofre ao passar por várias ideias, algumas que se fundem, outras que nem de longe combinam-se, e que gostaria que fizessem parte de sua composição. Até encontrar um engajamento para suas ideias, o poeta padece atrás de uma luz, de uma inspiração que ponha fim ao seu sofrimento.
Após a análise do poema “O Assinalado” o que podemos concluir é que a única loucura do poeta é escrever poema. O processo de concepção e realização literária. O sofrimento e desilusões por que passa são lexicais os emaranhado de ideias e estruturas congruentes no momento em que concebe a estética literária.